Tuesday, January 20, 2004

Introspectiva 2003


O ano-velho acabou há quase um mês; minha vida mergulhou numa tremenda roda-viva de compromissos, projetos e deveres; me falta tempo para qualquer coisa e apesar disso (ou por causa disso mesmo) a cabeça não pára de fervilhar em conjecturas e reflexões acerca de passado, presente e futuro. Passado, presente e futuro meus.

Eu julgava que apenas uma pessoa nesse mundo me conhecesse de fato. Essa uma pessoa não sou eu (eu sou a pessoa que menos me conheço!) mas constatei, meio decepcionado afinal, que ela não conhecia era nada sobre mim! Nada mesmo!

Ora, se eu não me conheço e se a única pessoa que eu julgava capaz de me conhecer também não, então quem me conhece nesse raio de mundo afinal?

Já fui idealista e sonhador. A vida me fez cínico, o cinismo me fez pragmático e o pragmatismo me fez reacionário. Estranhamente o reacionarismo nada tem de reacionário, pois não reage a nada, entregue ao seu próprio pragmatismo. Tudo roda roda roda e acaba no mesmo ponto. Por isso, longe de minha verve aparentemente explosiva, existe na verdade um conformado cidadão pacato, que julga que não há mérito e riqueza mior nessa vida do que cultivar amigos.

E amigos tenho às pencas, aos magotes. Quando eu era idealista e sonhador eu era misantropo. O cinismo matou a misantropia e saí pelo mundo a abrir-me feito as páginas de um jornal a qualquer um que se disponha a fazer o mesmo. Sou pragmático mas franco, e vira e mexe eu me vejo confiando em quem não mereceria a minha confiança.

Estranhamente, os tropeções em uma ou outra deslealdade não amainam a minha convicção. Continuo transparente e franco, continuo sem segredos, sem disfarces e máscaras e ainda assim, parece que ninguém me conhece na verdade.

Talvez seja aí que esteja a rsposta: Só me conhecem aqueles que eu sempre pensei que não me conhecessem e me desconhecem completamente aqueles em que confiei. Feito aquela brincadeira de escravos de Jó, tudo troca de lugar.

Amo meus amigos, mas descobri que algum deles, ou melhor dizendo, alguém que eu julgava ser meu amigo, foi o responsável pelo engano que fez com que a pessoa em quem eu um dia mais confiei se transformasse numa criatura absolutamente irrascível e desconhecida.

O que fazer daqui pra frente? Passar o meu extenso círculo de amizades por uma peneira e determinar quem é realmente amigo e quem está bancando o Judas? Abrir-me menos e preservar-me mais? Desconfiar de tudo e de todos, buscando em cada sombra um possível semeador de calúnias?

Não sei se nada disso seria possível. Porque eu posso não conhecer nada de mim, mas sei que se eu adotar qualquer medida dessas, eu não serei mais eu.

E que os outros todos me conheçam mais do que eu próprio, continuo achando bom. Apesar dos pesares, apesar dos traidores que sempre surgem, ter meus amigos ao meu redor ainda é um objetivo de vida meu.

Não sei se foi Maquiavel que disse "tenha seus amigos por perto e seus inimigos mais perto ainda". Como diria Odorico Paraguassu "se não disse, pensou!" Melhor que meu inimigo esteja mesmo entre meus amigos. Porque assim eu tenho a chance de conhece-lo também.

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